Perguntas tardias
Advogado do condenado, preso e ex-deputado José Genoíno (PT-SP) sobe à tribuna – sem inscrição prévia - e cobra do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a inclusão em pauta de seu processo.
Insatisfeito, o advogado se exalta, levanta a voz e, dedo em riste, insiste, o que resulta na ordem para que fosse retirado da tribuna pelos seguranças.
No momento do fato, os ministros do STF estavam julgando outro urgente e polêmico processo, mais precisamente a mudança no tamanho das bancadas partidárias dos estados na Câmara dos Deputados.
Sim, tem direito o advogado em pedir a prioridade legal de caso de réu preso e em execução penal, ao constatar que não fora incluído na pauta seu pedido (agravo regimental).
Porém e dramaticamente, o advogado errou no modo e na forma de sua ação. Desrespeitou o protocolo, o regimento interno e excedeu-se junto à maior corte judicial da nação. Fez mais e pior: ameaçou seu presidente.
Também errou a Ordem dos Advogados (OAB) ao lançar nota pública, quase que imediata, em defesa do ato do advogado. Uma nota corporativista. Ao contrário de suas históricas e democráticas manifestações em defesa das instituições.
Diante dos fatos, e na interminável série de abusos e desmandos, fica evidente que prospera a desordem e a paulatina desconstituição das autoridades públicas. Inclusive, desrespeitadas por outras autoridades.
Agora, no jogo inaugural da Copa do Mundo, nossa autoridade principal, a presidente da república, recebe uma chula e ofensiva vaia. Que se repetiu no jogo de Belo Horizonte, mesmo com a seleção e a presidente ausentes.
Outro fato. Que na raiz se assemelha aos demais. No Rio de Janeiro, um famoso ator global fazia lista de nomes daqueles atores que haviam se encontrado com o candidato oposicionista Aécio Neves, gerando bate-boca entre colegas de trabalho. O significa e pretende sua discriminatória listagem?
Assim, por maus e deseducadores exemplos, colhe-se os semeados e reproduzidos frutos da discórdia (entre que partes? quem as dividiu e definiu?). Frutos da mesma árvore. A intolerância.
A história de outros povos ensina. Mais algum tempo e mais alguns fatos da mesma natureza, e estaremos todos nos perguntando quando “tudo isso” começou realmente?
Embora relutante, concluo: tudo indica que vivenciaremos um deprimente, populista e despolitizante processo eleitoral.
Afinal, assim como as águas passadas, perguntas tardias também “não movem moinhos”.