Sob ataque, BTG liga para Bradesco e UBS para conversar. Sócios querem uma solução rápida,
Por: Geraldo Samor26/11/2015 às 1:58
Buscando uma solução rápida para o banco, os sócios do BTG Pactual contactaram ontem o Bradesco e o UBS para iniciar conversas que podem levar a uma venda do banco.
O UBS é um velho conhecido do BTG. André Esteves vendeu o antigo Banco Pactual para o banco suíço em maio de 2006 e recomprou o negócio em 2009, quando deu ao banco o nome e a configuração que ele tem hoje.
Bradesco e BTG sempre tiveram um relacionamento próximo. Antes de vender o Pactual ao UBS, Esteves chegou a negociar com o Bradesco uma transação que transformaria o Pactual no banco de investimentos da Cidade de Deus. Hoje, fundos geridos pelo Bradesco detêm 6,7 bilhões de reais dos 16 bilhões de reais em CDBs e outros títulos emitidos pelo BTG no mercado de capitais, o que faz da gestora do Bradesco o maior credor individual do BTG.
No mercado, há dúvidas sobre como uma venda poderia ser operacionalizada nas atuais circunstâncias. Nas partnerships tradicionais — como os bancos Garantia e Pactual dos anos 90 — não era necessária a anuência prévia de um sócio para que os outros o tirassem da sociedade. Antes do IPO do BTG, no entanto, Esteves criou uma governança diferente, que lhe dá controle efetivo sobre o banco.
Os sócios do BTG passaram o dia ontem tentando lidar com o cataclisma que se seguiu depois que Esteves, o fundador e principal acionista do banco, foi preso em conexão com a Operação Lava Jato.
O crédito, o equity e a imagem do BTG estão sob ataque, e os sócios do banco sabem que sua posição negocial tende a ser maior se agirem rápido.
A dívida do banco com vencimento em 2020 caiu ontem de 90% para 75% do seu valor de face, e só não negociou abaixo disso porque não havia ofertas de compra. O chamado ‘bônus perpétuo’ foi bidado a 55% do valor de face.
Na Bovespa, as ações do banco fecharam em queda de 21% depois de mergulhar até 39%. A ação negociou 12 vezes seu volume médio, e o banco anunciou um programa de recompra de 10% de seu capital.
No mercado, acredita-se que, no contexto atual, as chances do BTG sobreviver como um banco independente são pequenas.
Vários participantes do mercado narraram estórias de gestoras de recursos tentando substituir o banco como administrador de seus fundos, com medo de enfrentar alguma indisponibilidade de seus ativos se a situação do banco se agravar. Consultado, o Banco Central informou que o temor era infundado, e, em dado momento, o próprio BTG esclareceu aos clientes que a área do banco que presta estes serviços de administração de fundos tem um CNPJ diferente daquele do banco.
As evidências, ontem, eram de que o BTG estava dando liquidez imediata aos cotistas de fundos líquidos que pediam resgate e envidando os melhores esforços para dar liquidez a quem solicitava resgates em fundos com ativos ilíquidos, ainda que o mandato destes fundos não obrigue o banco a isto.
Parte da comoção é exagerada.
O BTG é um banco líquido que, ao que tudo indica, não tem ativos podres em seu balanço. Seus investimentos que naufragaram epicamente — que vão da Sete Brasil à BR Pharma — estão restritos a seu portfólio de private equity, que muito provavelmente seria segregado do banco numa eventual venda e mantido sob o controle dos atuais sócios.
Além disto, o BTG tem um negócio de gestão de recursos que interessaria, em tese, a qualquer instituição: são cerca de 230 bilhões de reais em ativos sob gestão.
Ainda assim, bancos respiram e sobrevivem com base na percepção de terceiros, e os próximos dias serão críticos para determinar o quanto resta de confiança na casa que Esteves construiu. Mais da metade do passivo do BTG vence nos próximos 90 dias.