Na manhã do dia 1º de abril, Brizola estava em Porto Alegre organizando a resistência. Coversou pelo telefone com políticos no Rio que tinham se reunido, às pressas, na casa do Brigadeiro Nicoll, na Tijuca, de onde coordenariam as ações com o pessoal da FAB, conforme o plano elaborado.
Brizola, então Deputado Federal pela Guanabara, questionou sobre a proteção ao presidente e insistiu na sua viagem para Porto Alegre. O plano elaborado pelo Brigadeiro Nicoll e oficiais de sua confiança no COMTA, precisava ser levado para Porto Alegre e entregue a Brizola. Os códigos para serem utilizados nas comunicações, que faziam parte do plano, foram ativados no Rio naquela manhã, conforme pedido de Brizola. Naquela situação, qualquer avião militar que fosse para o sul poderia ser detido pelos militares ainda no comando da Quinta Zona Aérea, os quais não eram alinhados com o governo de João Goulart. Foi designado um subalterno, de confiança do Brigadeiro Nicoll e com acesso a Brizola, para levar o plano em mãos, via avião de carreira. Foi entregue.
Jango desembarcou em Brasília, vindo do Rio de Janeiro, no dia 1º de abril de 1964, no meio de tarde. Reúne-se na Granja do Torto com Tancredo Neves, Doutel de Andrade, e o General Nicolau Fico, comandante militar de Brasília, e com o General Assis Brasil, chefe da Casa Militar, entre outros. Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil e Waldir Pires, Consultor Geral da República, por insistência de Brizola, finalmente convenceram Jango de que deveria ir para o Rio Grande do Sul, onde teria uma posição de força do ponto de vista dos militares.
Conforme instruções dos que coordenavam o plano de proteção aérea do Presidente, desde o Rio de Janeiro, providenciaram para que a imprensa soubesse que João Goulart iria para o Rio Grande do Sul num Coronado, um avião a jato da Varig. Por ser uma manobra diversionista, o avião não levantou voo, o que acabou ocasionando posteriormente boatos de sabotagem.
Era uma ação planejada para confundir os golpistas, pois desde que decolou do Rio para Brasília, os coordenadores do plano estavam acertando para que o Presidente fosse de Brasília para Porto Alegre num avião da FAB, adequando a nova situação ao plano de proteção. O plano de proteção consistia de cartas aeronáuticas (mapas), com indicações de rotas e campos de pouso alternativos. Se fosse temerário na ocasião utilizar o avião presidencial para retornar a Brasília e assim manter a presidência, Jango secretamente deveria utilizar um outro avião de pequeno porte. Esta aeronave pousaria em uma das pistas assinaladas nas cartas aeronáuticas secretas. De lá Jango seguiria num avião maior para Brasília, onde a situação militar já estaria sobre controle. Neste percurso jatos da Base Aérea de Santa Cruz se revezariam na escolta do Presidente.
Para evitar o vazamento do plano, os pilotos da Base Aérea de Santa Cruz, que permaneciam de sobreaviso na base, só tomariam conhecimento durante a instrução da missão, antes da decolagem. Um oficial de operações do COMTA estaria presente para informar os detalhes deste plano, junto seria informado o código secreto de comunicações, que já havia sido ativado para ser utilizado nas operações.
O Brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, que se vangloriou de ter mandado prender o Brigadeiro “comunista” Ricardo Nicoll, quando este pousou no Galeão, em abril de 1964, comandando um avião da FAB, vindo de Recife disse que em 1968, quando comandava o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA), colocou no ostracismo os oficias suspeitos de participarem do plano no Galeão e baniu da FAB o sargento que levou em mãos o plano à Brizola.
Havia, portanto um planejamento secreto de ações na Força Aérea Brasileira, elaboradas no início de 1964, preservando o presidente, política e fisicamente. O básico do plano não foi realizado, seguir do Rio de Janeiro, onde se encontrava, para Porto Alegre no dia 1º de Abril de 1964, quando iniciou-se o golpe militar. Esta indecisão do Presidente João Goulart mudou a história do Brasil.
Contrariando a posição de resistência de Brizola, Jango abdicou da luta armada no dia 2 de abril. Os oficiais legalistas da FAB reunidos na Base Aérea do Galeão, naquela noite, sabendo da decisão do Presidente tomada em Porto Alegre, desmobilizaram-se. No dia 3 de abril o Presidente Constitucional foi para o exílio no Uruguay. A causa da sua morte naquele país esta agora sendo investigada.