Luciana Genro, minha ilustre vizinha.

Glauco Fonseca

 

 

Creio que a ex-deputada Luciana Genro mora na zona sul da cidade de Porto Alegre. Creio, pois, em várias ocasiões eu a vi nas redondezas e, por dois momentos, dela me aproximei para conversar. Na primeira, na loja do Nacional da Wenceslau Escobar (antigo Dinosul), fui desejar boa sorte em alguma eleição que não lembro. Achei que, por educação, estando ao lado de uma mulher reconhecida por suas posições aguerridas e corajosas (por ter enfrentado e ter sido expulsa do PT), poderia iniciar uma breve interlocução. Ela foi afável e gentil.

 

A segunda vez foi no Zaffari da Otto Niemeyer, logo após a bombástica e avassaladora “entrevista coletiva” que ela e o então vereador Pedro Ruas haviam dado, onde declararam ter visto “com qualidade de cinema” (ou algo parecido) cenas constrangedoras envolvendo a pessoa da então governadora Yeda Crusius. Eu a encontrei no corredor de saída do Zaffari e disse à Deputada Luciana:

 

- Deputada, por favor, me diga que é verdade. É muito sério, deputada. Vocês realmente viram? Vocês realmente mostrarão tudo que disseram que viram?

 

E ela, sem pestanejar, afirmou:

 

- Infelizmente (fazendo uma cara de forçado constrangimento), é tudo verdade e nós vimos.

 

- Eu repliquei: “Mas quando NÓS veremos deputada? Eu quero ver, todo estado quer ver, o país quer ver, quando é que nós, cidadãos, iremos ver o tal vídeo?”.

 

- Muito brevemente. Logo, logo. Falta pouco, muito pouco para os vídeos serem mostrados, declarou a excelentíssima senhora deputada federal Luciana Genro, usando uma calça branca totalmente transparente, onde se podia observar, mesmo que de relance, uma minúscula tanga, um tanto incongruente, por um lado, com seu cargo, mas, por outro, bastante compatível com sua bela figura.

 

Eu confesso que quase acreditei. Quase. Afinal, tratava-se de uma deputada federal, ainda que ousadamente vestida. Quase acreditei na filha de um ex-prefeito, ex-ministro e governador do estado. Tempos depois, um desmentido tão pusilânime quanto criminoso mostrou por quê uma carreira parlamentar tão truncada e um comportamento irregular dentro até mesmo de seu próprio partido, que a puniu com solene expulsão.

 

Mais recentemente, a inconformidade com sua derrota na tentativa de reeleição e a manifestação espúria para mobilizar forças para que a lei eleitoral mude (a seu favor, é claro), realçam o modelo equivocado que sugere a filha do atual governador. E talvez explique ainda melhor os motivos que teve um pai para permanecer e prosperar num partido que dele expulsou sangue de seu sangue.

 

Confesso, finalmente, que tinha simpatia e consideração pela Deputada. Mas quando mentem para mim, eu fico triste. No próximo encontro casual com a ex-deputada, sequer irei permanecer no mesmo corredor do supermercado. E novamente não estarei sozinho.