Imóvel na Atlântica teria sido comprado por metade do valor: R$ 1,1 milhão A única pessoa que poderia explicar por que o imóvel da Avenida Atlântica foi vendido a um preço irrisório, considerando-se o mercado na época, morreu ao cair da sacada de seu apartamento em Curitiba (PR): seria a ex-proprietária, Dalete Barros dos Santos, antes conhecida como Lisa Grendene, ex-socialite e ex-esposa do magnata do ramo calçadista Alexandre Grendene Bartelle.
Num inquérito civil público aberto há um ano e que estava guardado a sete chaves, o comandante da Marinha do Brasil, almirante Julio Soares de Moura Neto, é alvo de investigação da Procuradoria da República no Distrito Federal por improbidade administrativa. O Ministério Público Federal apura três denúncias feitas por um advogado, cujo nome está sendo mantido em sigilo. A principal delas, segundo o documento, é a aquisição de imóvel de luxo na Avenida Atlântica, no Leme, “que seria incompatível com sua renda e que estaria vinculada, de forma ilícita, à compra de submarinos franceses pelo Brasil”.
As viagens para o exterior feitas pelo comandante da Marinha, ‘em tese, desnecessárias e em número excessivo’ —, também serão apuradas. Só em 2012 foram 64 dias fora do país. A última investigação é sobre a nomeação de um capitão-de-mar-e-guerra, que seria primo de sua mulher, para servir na Organização Marítima Internacional (IMO), sediada em Londres. Esse mesmo oficial deixou de ser promovido algumas vezes porque a Comissão de Promoção de Oficiais (CPO) o considerara inabilitado para comandar navios ou organizações militares, segundo fontes da Marinha.
Em dezembro de 2008, o Brasil anunciou a compra de submarinos franceses, mas os contratos foram assinados no primeiro semestre de 2009. Naquela ocasião, o comandante da Marinha e sua mulher, Sheila Royo Soares de Moura, residiam num modesto apartamento de fundos comprado em 1977 na Rua General Ribeiro da Costa, no Leme.
Em fevereiro de 2009, a família concretizou a primeira transação imobiliária: Sheila adquiriu em seu nome um outro apartamento no prédio onde morava, por R$ 280 mil. Em junho, o almirante e sua mulher venderam por R$ 730 mil o imóvel no qual residiam, mas continuaram no mesmo edifício da Rua General Ribeiro da Costa, no imóvel comprado.
A diferença de valor entre os dois apartamentos no mesmo prédio, negociados com apenas quatro meses de intervalo, foi de R$ 450 mil. Em setembro, compraram um apartamento num prédio que é considerado um dos dez melhores edifícios do Rio de Janeiro, segundo avaliação no site ‘Skyscrapercity’. O endereço é nobre: Avenida Atlântica 270, no Leme, de frente para o mar.
O valor de compra do imóvel não reflete a realidade do mercado na época: na escritura, consta que o almirante Moura Neto adquiriu o apartamento por apenas R$ 1.180.000. Imobiliárias garantem que, na ocasião, um imóvel naquele prédio custava, no mínimo, o dobro.
A Marinha enviou nota, mas não respondeu aos questionamentos do DIA.
Imóvel no Leme pertencia à mulher de empresário do Sul
Na escritura de compra e venda do imóvel da Avenida Atlântica, no Leme, a mãe do comandante da Marinha, Lourença Soares de Moura, aparece como a compradora de 50% do apartamento.
Os outros 50% são adquiridos por Julio Soares de Moura Neto e sua mulher, Sheila Royo Soares de Moura. No entanto, no mesmo documento, a mãe faz uma doação da parte dela para o filho e a nora, em regime de usufruto — na morte dela, os outros 50% do imóvel passam para o casal.
Mas não foi apenas Lourença quem resolveu fazer doações de bens na família. O apartamento 303, da Rua General Ribeiro da Costa 190, comprado em fevereiro de 2009, ficou na posse total da mulher do comandante da Marinha até a data de 5 de abril de 2013, quando ela doou a metade do imóvel para a cunhada, Janete Ferreira de Andrade, irmã do marido.
Coincidentemente, na véspera, o dia 4 de abril, o jornalista Cláudio Humberto publicou nota em seu site intitulada “Poder, política e bastidores”, dizendo que o comandante poderia aproveitar a aposentadoria num belíssimo apartamento, na cobiçada Avenida Atlântica, avaliado em R$ 5 milhões (valor é referente àquela ocasião).
Segundo Marinha, militar fez viagens oficiais por 64 dias em 2012 De acordo com documentos a que O DIA teve acesso, somente em 2012 o comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto, viajou por um período total de 64 dias para a Antártica, o Reino Unido, a República de Cabo Verde, o Chile, a Namíbia e Angola (duas vezes). E ainda para países México, Estados Unidos e Peru. Mas há informações de que ele também teria ido à Líbia.
Um ano antes, Moura Neto visitou duas vezes os Estados Unidos (em setembro e outubro), num total de 13 dias.
No ano passado, o militar foi à Argentina e à Holanda (12 dias). E, apenas em fevereiro e março de 2014, ele esteve na Inglaterra, na França e no Uruguai (17 dias).
O comandante da Marinha fez 16 viagens a 14 países entre setembro de 2011 e março de 2014. A única informação dada pela Marinha é que foram viagens oficiais.