Por Dane Avanzi
O mercado mundial da telefonia móvel nunca esteve tão efervescente como nos últimos meses. Recentes fusões na Europa; leilão do 4G no Brasil prestes a ocorrer; notícias do fatiamento da Tim pela Oi, Claro e Vivo, na semana retrasada; compra da GVT pela Vivo, no começo de agosto; são alguns dos acontecimentos marcantes do setor. Para esquentar ainda mais o cenário, veio a público que a NII Holdings, controladora da Nextel no Brasil, tem grandes chances de pedir à Justiça norte-americana proteção contra a falência - processo equivalente à recuperação judicial no Brasil.
Segundo informações, o processo que já está em andamento, permitiria a empresa reestruturar sua dívida, que gira em torno de 5,8 bilhões de dólares. Faz parte dos planos de recuperação da NII Holdings transformar os credores em acionistas e implementar um modelo de negócio mais sustentável com foco no Brasil e no México, seus dois maiores mercados.
No Brasil, a Nextel tem perdido clientes e sofrido um declínio na receita média por usuário, enquanto a Claro, a Vivo e a TIM oferecem melhor cobertura e smartphones cada vez mais populares. Além desses fatos, a tecnologia Iden, plataforma que suporta o carro chefe da Nextel, o rádio, envelheceu e não se atualizou.
Resumindo: o que antes era sua grande vantagem - rádio e celular no mesmo produto - atualmente passou a ser uma grande desvantagem pois, com a oferta de planos de telefonia móvel cada vez mais competitivos, a taxa mínima de adesão ao serviço ficou cara para os consumidores pessoa física, muitos inclusive de baixa renda.
Para o consumidor pessoa jurídica, a falta de confiabilidade no futuro da operadora aliada a uma série de restrições de cobertura acumuladas ao longo dos anos torna óbvio seu futuro incerto. Por exemplo, há cinco anos, a Nextel tinha operação em quase todos os países da América do Sul, México e EUA. Hoje, sobraram apenas Brasil e México, mercados com forte presença de operadoras com maior capacidade financeira e apetite para investir na expansão de redes 4G.
A saída para a NII Holdings e a Nextel no Brasil é encontrar um sócio local ou de outro mercado com disposição e dinheiro para estabilizar o fluxo de caixa da empresa e, simultaneamente, investir altas cifras na modernização e expansão da rede 4G. Mesmo que a empresa encontre esse sócio, a briga não será fácil, pois terá que lutar com a Vivo, Claro e Oi (Tim não sabemos o futuro), as quais já dispõem de rede implementada e base de clientes sólida.
Além disso, há outras decisões estratégicas a serem tomadas no que tange ao posicionamento da empresa frente ao mercado. Muitos de seus clientes, os mais fiéis por sinal, contam com a continuidade da tecnologia Iden (PTT), que suporta a plataforma de radiocomunicação. Apesar de a empresa ter virtualizado o botão (PTT) para smartphones, a maior parte de seus clientes utiliza equipamentos mais simples.
É o caso, por exemplo, de empresas de vigilância e segurança, as quais utilizam o equipamento em substituição ao aparelho de radiocomunicação convencional. Será que, em um cenário diferente, valerá a pena manter o Nextel ou será mais vantajoso comprar ou alugar um rádio convencional, sem tarifas e taxas mensais?
Ocorre que, desde o início do ano, a empresa vem se reposicionando no mercado como fornecedora de serviço de dados 4G. Afinal de contas, qual mercado a Nextel pretende, de fato, atender? As respostas para essas questões dependerão dos desdobramentos e da evolução do possível pedido de recuperação judicial em trâmite.